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Editorial

 Pouco texto para muita fome 

Há pouco mais de cinco anos, o Brasil saía do mapa da fome, segundo apontava a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Essa conquista foi realizada através de diversos esforços governamentais. As principais ações que contribuíram para este objetivo foram as políticas de segurança alimentar e nutricional e o apoio à agricultura familiar. 

 

A zona rural teve um papel fundamental para sustentar a vida na cidade e garantir a alimentação de cada dia. Há um ditado popular que diz: “se o campo não planta, a cidade não janta” e os números explicam isso. 70% dos alimentos consumidos no Brasil vêm da agricultura familiar, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

O arroz, o feijão, o milho, o leite, a batata e a mandioca são alguns dos produtos produzidos pelos pequenos agricultores e que abastecem a mesa dos brasileiros. Assim, mesmo com recordes de safras do agronegócio, que exportam em grandes quantidades, é da zona rural que garante a segurança alimentar no Brasil. 

 

Mas esse caminho de esperança foi interrompido. Em 2017, 40 ONGs que atuam no Brasil enviaram um relatório às Nações Unidas alertando para o risco do aumento da fome no Brasil. À época, a alta do desemprego, o avanço da pobreza, os cortes no Bolsa Família e o congelamento de gastos públicos eram os principais vilões. Em 2020, o maior deles chegou: a pandemia do novo coronavírus. 

 

Conforme a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), o estado pandêmico transformou as dinâmicas da fome no mundo. Se antes havia uma maior concentração da insegurança alimentar nas zonas rurais, esse índice passou a crescer também nos centros urbanos. Além disso, a produção e a venda de alimentos do campo caiu. 

 

No início da pandemia, diversos cidadãos se mobilizaram em iniciativas de combate à fome. A onda de solidariedade, no entanto, foi passageira, onde muitos surfaram e postaram nas redes sociais. Mas quem tem fome, tem pressa. Esse problema não pode ser pensado e discutido com mais delongas. É preciso solucionar de forma rápida e eficaz. É preciso retomar o caminho para fora do mapa da fome e o Brasil já sabe como fazer isso. 

 

É dever do Estado proporcionar a sobrevivência dos brasileiros. Todo brasileiro tem o dinheiro para comer e obter nutrientes para a sobrevivência. Se somos um país que mais produz graças ao agronegócio, como podemos ter uma população em situação de insegurança alimentar?


Muito carboidrato e pouca variedade de vitaminas. É o que aponta o estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas, que revela que apenas dez produtos concentram quase metade do consumo alimentar no país. O apurado mostra que arroz, feijão, pão francês, carne bovina, frango, banana, leite, refrigerantes, cervejas e açúcar cristal compõem mais de 45% do cardápio do brasileiro, enquanto representam cerca de 35% do seu gasto em alimentação.

O ato de comer se tornou mais do que nutrir-se, é uma expressão do alimentar e da memória cultural de um povo. Hoje, somos mais que arroz com feijão e milho que cresce na lavoura do interior e que enche os pratos da mesa. A realidade brasileira é de insegurança, de onde vem o que comemos? O que é o ideal para minha alimentação? Comer também é um ato político? Essas e muitas outras indagações são lançadas diariamente.

 

Um turbilhão de informações são construídas até chegar em: “ter fome sem ter acesso a alimentos" é a realidade de alguns brasileiros das grandes cidades, como por exemplo, os moradores de rua e a insuficiência do consumo de nutrientes. A nutrição do país se constrói em desigualdades em diferentes proporções de proteínas, carboidratos, vitaminas e minerais que estão sendo consumidas, gerando doenças e hábitos de consumo cada vez mais inadequados.

 

Durante a pandemia, o Brasil passou por problemas econômicos que agravaram ainda mais o bolso da população, sendo necessário a substituição de alimentos da cesta básica de consumo. O miojo, o refresco em pó, a salsicha e embutidos em geral tomaram destaque nas mesas durante a pandemia, assim como a redução de produtos, como leite em pó, óleo, arroz, feijão, carne, frutas e verduras.

 

Comer também é ato afetivo de retratar tradições de um coletivo e de afirmar os nossos sentimentos e a relação com a comida diariamente. São experiências passadas de geração em geração, as receitas e dicas de pratos que carregam emoções e memórias da tia, da avó, da mãe, do pai e dos primos. A riqueza da cultura brasileira em forma de alimento, sentir  as sensações de conhecer experimentando o que temos de melhor, o nosso tempero em essência única.

 

O que produzo também é compartilhar. As comunidades no interior do Ceará fazem do “quintal” um meio de subsistência onde o alimento é para todos. Aprender a cultivar o seu próprio alimento, desde o plantio e a preparação da terra até a escolha do que se vai fazer com a colheita gerada. Tradição e ancestralidade na preparação dos alimentos, sendo quem são no ato do preparo e do cozimento de alimentos tradicionais de um determinado grupo. Produzir e colher mais do que o necessário, compartilhar e trocar o que temos em excesso, o alimentos é de todos.

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